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Como a espiritualidade influencia a saúde

A medicina vem abrindo seus braços para a espiritualidade. A fé não substitui remédios, mas, ao que tudo indica, pode somar forças à reabilitação do organismo.

Por Lucas Rocha (texto), Estúdio Coral (direção de arte)
Atualizado em 20 dez 2024, 14h35 - Publicado em 20 dez 2024, 14h23 

Leia mais em: https://saude.abril.com.br/medicina/entre-a-fe-e-a-ciencia-como-a-espiritualidade-influencia-na-saude

Satélite

Há 15 anos, a dentista Juliana Coutinho Bastos, 37, sofreu complicações devido a uma infecção por citomegalovírus. O micro-organismo é bastante comum e, em geral, não provoca sintomas debilitantes, principalmente entre pessoas com bom estado de imunidade. Era o caso da moradora de São Paulo. 

Contudo, o vírus armou um inferno em seu organismo, gerando uma obstrução intestinal grave — algo raríssimo de acontecer, segundo a literatura médica. “Durante a internação, fui acompanhada por infectologistas e gastroenterologistas renomados. Os especialistas não sabiam explicar o que estava acontecendo ou como o quadro poderia evoluir, pois nunca tinham visto algo parecido”, relata. 

Foram quase 20 dias sem nenhum sinal de melhora, quando uma amiga da mãe, que frequentava um centro espírita, deixou um aviso: naquele dia, às 8 da noite, ela receberia uma “visita”. 

“Eu e minha mãe estávamos conversando e nos esquecemos completamente da mensagem. De repente, comecei a eliminar gases. Quando olhamos para o relógio, marcava 20h06. Lembramos do aviso e começamos a rezar".

Juliana detalha que permaneceu mais dois dias no hospital para a realização de exames. Os resultados apontavam que o funcionamento do intestino havia voltado ao normal. 

“Nunca tivemos uma explicação médica. Eles falaram abertamente que não sabiam justificar como o quadro tinha sido revertido”, conta. 

Coincidência, dirão os céticos. O poder da fé ou de forças que a ciência não compreende, dirão os crentes. “Para mim, nada na saúde acontece sem o movimento do lado de lá”, diz Juliana, fazendo referência à espiritualidade. 

Ao mesmo tempo que existem dezenas de histórias que permanecem sem respostas da medicina, já há um conjunto de evidências que indicam como as crenças — em Deus, em entidades do outro mundo ou mesmo na natureza — influenciam o bem-estar físico e mental e o desfecho de doenças. 

 

Essa é, aliás, uma área de estudos que dava seus primeiros passos há pouco mais de 30 anos e agora vive uma fase de efervescência, a ponto de bater carimbo em congressos médicos de peso. 

Um dos responsáveis por essa tendência, com o devido pé nas limitações e potenciais demonstrados pela ciência, é o cardiologista Alvaro Avezum, presidente do Departamento de Espiritualidade e Medicina Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). 

Para ele, antes de discutir os efeitos de uma crença, é importante distinguir três conceitos: religião, religiosidade e espiritualidade. 

“De maneira sucinta, religião é um sistema organizado de crenças, práticas, símbolos e rituais no qual a pessoa busca algum tipo de compreensão daquilo que é o sagrado, o não mensurável. Religiosidade, por sua vez, pressupõe que o indivíduo já tenha uma religião e considera como e quanto ele a pratica”, esclarece. 

Já a espiritualidade, prossegue o médico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP), contempla uma série de valores morais, mentais e emocionais, que norteiam comportamentos e atitudes que podem ser observados e mensurados. 

O escopo, portanto, é mais amplo, e pode abranger ou não a religião. “Praticamente todos os problemas sérios que assolam o mundo hoje e nossa vida individual têm conexão com algum tipo de fé. Por isso, não há nada mais importante para a ciência pesquisar no momento”, afirma o psiquiatra Harold Koenig, professor da Universidade Duke, nos Estados Unidos, e um dos precursores e mais renomados estudiosos do tema.

Uma de suas obras, Manual de Religião e Saúde (Oxford University), tornou-se uma referência nas últimas décadas para quem trabalha na área do cuidado, esmiuçando os impactos documentados de ter uma crença nas artérias, nos hormônios, na imunidade…

“Ainda assim, a maior limitação nesse campo tem sido o financiamento dos estudos. Para realizar boas pesquisas, o custo é elevado”, diz o médico. 

Ter fé faz bem ao coração
“Guarda o teu coração, pois dele procedem as fontes da vida”, lemos em Provérbios, um dos livros da Bíblia. Pois hoje o órgão e a rede de vasos ao qual está ligado se destacam entre os profissionais que se debruçam sobre o elo entre fé e saúde.

Os resultados dos estudos incentivaram o estabelecimento de uma diretriz específica da SBC. Pesquisas mostram que nutrir uma espiritualidade está associado a um menor risco de ter doenças cardiovasculares sérias em função de suas repercussões positivas no controle da pressão arterial, do estresse, da ansiedade e da depressão e na adoção de hábitos saudáveis, a começar pelas menores taxas de tabagismo e consumo exagerado de álcool.

Investigações nacionais de pacientes com insuficiência cardíaca registram como outra vantagem a adesão aos tratamentos prescritos e às orientações nutricionais. 

A vivência espiritual também faz diferença na contenção de danos e na qualidade de vida entre pessoas que passaram por umAVC, como sugere um estudo italiano — nesse contexto, as crenças foram associadas a menores índices de mortalidade e novos episódios de derrame. 

Por tudo isso e mais um pouco, dentro da cardiologia há quem defenda que a espiritualidade pode (e deve) ser abordada no consultório e no hospital. 

O que os apóstolos dessa corrente aconselham é que as diversas expressões da espiritualidade devem ser incorporadas ao cuidado com a saúde tanto para superar doenças graves quanto para ter mais vigor e prevenir problemas.

É o que prega um grupo de pesquisadores da Universidade Harvard, nos EUA, que são categóricos ao afirmar que considerar esse âmbito da vida na assistência médica significa acolher o paciente como um todo, e não apenas tratar uma enfermidade. 

Eles chegaram a essa conclusão após escrutinar mais de 15 mil artigos científicos sobre o impacto da fé no contexto da saúde e convidar um painel independente de experts de diversas áreas da medicina e do campo da espiritualidade — católicos, protestantes, hindus, judeus, muçulmanos… e até ateus — para revisar os achados e definir consensos a respeito. 

Os cientistas de Harvard observaram que, de forma geral, a participação em comunidades espirituais e religiosas está vinculada a vivências mais saudáveis, maior longevidade e menor propensão a depressão uso de drogas e suicídio.

Mais: ter uma fé influencia o engajamento no autocuidado para controlar doenças e ter qualidade de vida. 

Práticas e narrativas religiosas podem criar mudanças profundas e positivas para os indivíduos, de acordo com a antropóloga Tanya Luhrmann, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos. 

“As pessoas se sentem menos solitárias, mais envolvidas e amadas. É exatamente isso que faz com que elas mudem”, afirma a autora de How God Becomes Real: Kindling the Presence of Invisible Other (Princeton University Press), livro ainda sem edição em português que pode ser traduzido como “Como Deus Se Torna Real: Acendendo a Presença do Outro Invisível”. 

A pesquisadora destaca que a religião é uma prática na qual as pessoas se esforçam para fazer contato com algo que não é visível nem tangível — até porque nem tudo nesta vida é passível de uma explicação exata.

“Na obra, faço referência a uma revisão de mais de 3 mil artigos publicados que examinaram a relação entre índices de envolvimento religioso e marcadores de saúde corporal. Mais de dois terços dos trabalhos identificaram um efeito positivo”, pontua a antropóloga americana.

Percursos de autodescoberta
O Caminho de Santiago, uma das mais notáveis rotas de peregrinação do mundo, testemunhou um aumento expressivo de viajantes, ultrapassando 446 mil até 2023. Os dados consideram aqueles que chegaram à cidade e obtiveram seu certificado emitido pela Catedral de Santiago de Compostela, na Espanha. Um estudo divulgado no Journal of Religion and Health avaliou experiências religiosas e seus efeitos entre os peregrinos. Mais de 500 relatos de viagem foram analisados, revelando mudanças significativas após o trajeto. Os visitantes manifestam uma transformação em direção a um amor maior, unidade com a natureza e compartilhamento de insights, bem como espiritualidade aprofundada e redução do apego material. Os pesquisadores concluem que essas guinadas duradouras contribuem para o crescimento pessoal e das perspectivas de vida entre os romeiros.

Espiritualidade e saúde mental
Boa parte dos benefícios tem a ver com o equilíbrio mental. “Muitos aspectos da oração podem funcionar como uma terapia”, argumenta. 

Nessa direção, o Conselho Federal de Psicologia publicou uma resolução em 2023 que instrui a categoria a atuar de acordo com a legislação brasileira e os princípios éticos da profissão no que diz respeito à laicidade e à espiritualidade.

“O respeito pela posição religiosa dos pacientes é primordial para a relação psicoterapêutica”, avalia o psicólogo Maycon Torres, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). Assim, cabe ao profissional investir na escuta a partir de relatos de fé ou crença e utilizar as informações obtidas como recursos no tratamento. 

Para que isso aconteça de maneira efetiva, recomenda-se evitar, por exemplo, confrontos com a religiosidade do indivíduo. 

E, diante de determinados transtornos psíquicos, quando for observado que alguns aspectos da fé podem contribuir para a manutenção de sintomas nocivos, o terapeuta pode introduzir, durante as sessões, a ideia de flexibilização das crenças. 

Imagine que alguém tenha compulsões e obsessões relacionadas a ritos religiosos que trazem dificuldades à sua rotina. Lidar com elas será crítico para o indivíduo se sentir melhor. 

“Uma escuta acolhedora é fundamental: é preciso tomar cuidado para não bater de frente com a fé do outro. Manter uma postura endurecida ou partir para tentativas de convencimento, sem levar em consideração o aspecto afetivo da espiritualidade, leva a perdas no processo”, diz Torres. 

“Por outro lado, o profissional de psicologia deve evitar a introdução de aspectos religiosos se não houver uma demanda ou abertura”, pondera. 

Até porque as necessidades de cada um variam e são influenciadas pelo estado emocional e cognitivo do paciente. Estudos revelam, por exemplo, que pessoas com tumor cerebral podem enfrentar desafios em relação à fé devido à deterioração neurológica, assim como as necessidades espirituais tendem a ser diferentes de um doente para outro. 

Ou seja, em contextos mais ou menos adversos, o olhar para a espiritualidade depende do respeito à condição e às escolhas do indivíduo. Não é obrigatório. Tampouco comporta uma fórmula-padrão. 

Um sopro de esperança
Fato é que a espiritualidade tende a florescer quando se encara umadoença grave ou carregada de medos. Isso é particularmente visto na luta com o câncer. 

“Não há melhor exemplo de como o otimismo e a esperança alimentados pela fé religiosa afetam a resposta ao tratamento, tanto em termos de qualidade de vida como de sobrevivência”, acredita Koenig. 

Aí que está: a crença não substitui a cirurgia, a quimio, a radio ou a imunoterapia. Ela soma forças durante a jornada do paciente, caso faça sentido para ele. Por isso, um corpo crescente de médicos defende a integração do trabalho com a espiritualidade dentro dos pilares de manejo dos tumores e do sofrimento que podem acarretar. 

"Eu nunca fui uma pessoa religiosa. Nem sequer acreditava em Deus. Rezava por habito, mas sem realmente crer. Para mim, Deus era apenas uma ideia vaga, algo distante e irreal", relata Rony Reis, do Rio de Janeiro. "Até que um dia comum virou o início de uma transformação na minha vida."

 

O matemático, hoje com 51 anos, tinha recebido o diagnóstico de um câncer na coluna. A cirurgia para raspagem do tumor, que atingia regiões sensíveis das vértebras, trouxe consequências sérias. Embora bem-sucedida em relação ao câncer, deixou o carioca paralisado do pescoço para baixo.

 

"A fisioterapia começou logo depois, um processo árduo e exaustivo. As primeiras semanas foram humilhantes: não conseguia mover um dedo, e a frustração era maior que qualquer dor", recorda.

"A fisioterapia começou logo depois, um processo árduo e exaustivo. As primeiras semanas foram humilhantes: não conseguia mover um dedo, e a frustração era maior que qualquer dor", recorda.

No entanto, o matemático cético começou a sentir uma mudança no ar. "Cada profissional que entrava no meu quarto parecia trazer uma espécie de mensagem de otimismo, como se soubesse de algo do qual eu não sabia", conta.

 

O ponto de virada no tratamento aconteceu após uma conversa com uma das enfermeiras do hospital. Ela compartilhou com Rony a história de uma paciente que carregou uma cruz semelhante à dele.

 

"Nas semanas seguintes, decidi que precisava me agarrar a algo, qualquer coisa. Comecei a fechar os olhos e, pela primeira vez na vida, tentei rezar de verdade. Não sabia o que dizer, então apenas sussurrei: 'Deus, se você estiver aí, me ajude. Só me ajude", lembra-se.

Ao longo do processo de quimioterapia, marcado por fadiga, náuseas e perda dos cabelos, o relacionamento com o divino se estreitou. A primeira boa notícia veio com a remissão do câncer. E, após oito meses sem conseguir se mover, surgiram os indícios da recuperação física.

 

Com a fé e as sessões de fisioterapia, Reis retomou a mobilidade, surpreendendo até mesmo a equipe que o acompanhava.

 

"Até hoje, o médico me chama de Highlander, o guerreiro imortal. Brincadeiras à parte, eles não entendem como consegui recuperar os movimentos", compartilha. "Eu acho que foi a fé que aprendi a ter em Deus."

O outro lado da vida?
A experiência de quase morte é um dos fenômenos que mais intrigam cientistas e espiritualistas. Em geral, os episódios são associados a problemas como parada cardiorrespiratória, choque, trauma e asfixia. São comuns relatos de visões fora do corpo, túneis e cores brilhantes, além de permanência em um ambiente além da existência cotidiana, sem as restrições comuns de espaço e tempo. Em parte dos episódios, a vivência pode levar a uma transformação permanente após o retorno. Do ponto de vista neurológico, a queda da oxigenação do cérebro está associada à interrupção da atividade elétrica no córtex. Porém, os neurônios ainda são capazes de gerar impulsos e promover os efeitos descritos. "Temos ainda um sistema interno que libera endorfinas em situações extremas, e isso pode provocar as sensações de bem estar relatadas", contextualiza o neurologista Fernando Gomes, professor da Universidade de São Paulo
(USP).

Espiritualidade na terceira idade
A espiritualidade também tende a aflorar quando, ao envelhecer, o sujeito passa a ter menos autonomia e a vislumbrar a finitude da vida.

 

E, nessas horas, a fé pode mover o cuidado com a saúde. É o que indicam os resultados de uma pesquisa publicada no periódico Frontiers in Medicine com a participação de especialistas do Brasil, da Itália, da Argentina e da Colômbia.

 

A revisão da literatura científica incluiu mais de 100 trabalhos, totalizando dados de quase 80 mil idosos. A análise demonstrou que aqueles que tinham maior contato com práticas religiosas e espirituais apresentavam menos sintomas de ansiedade e depressão, mais sentimentos de satisfação e plenitude e um maior número de relações sociais.

 

Acreditar em algo para além da materialidade, nesse caso, pode dar significado epropósitoa existência e suporte face a uma enfermidade crônica ou mesmo à sombra da morte.

“Saber se o paciente expressa qualquer tipo de fé é útil sobretudo diante de conversas difíceis, notícias ruins ou questões relacionadas ao fim da vida”, diz o geriatra Milton Crenitte, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Anamnese espiritual
Com base nas evidências descritas até o momento, ganha relevo, em diversas especialidades da medicina, a ideia de que a espiritualidade deve ser incorporada à rotina de cuidado com a saúde - seja numa consulta, seja em um procedimento no hospital.

 

O argumento é que a inclusão desse pilar na assistência proporcionaria uma atenção mais completa ao paciente, e não apenas um enfoque na doença, ecoando a própria definição de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS).

 

No pais, o Conselho Federal de Medicina (CFM) defende que não devem existir incompatibilidades entre fé ou crença e conhecimento científico no exerciato da profissão, desde que sejam respeitados os princípios básicos e irrefutáveis da boa prática médica.

 

Mas como pavimentar essa abordagem de uma maneira factível, ética e livre de amarras religiosas ou ideológicas? A resposta pode estar na anamnese, a conversa que permite ao profissional conhecer o histórico e os hábitos do invidíduo à sua frente e coletar informações relevantes — das queixas que o levaram até ali ao seu estado emocional - e capazes de interferir no acolhimento e nas prescrições.

O diálogo sobre a espiritualidade deve fluir abertamente, começando por perguntas sobre as crenças e valores do paciente, sem expressão de nenhum julgamento ante as respostas.

 

De novo: não há espaço para pregação pelo profissional - uma das grandes críticas, aliás, é a medicalização da espiritualidade.

 

O objetivo é se valer da crença do paciente para maximizar os benefícios do acompanhamento ou da intervenção proposta.

 

"A ideia é entender quanto ela importa para a pessoa e identificar o que pode ser usado como recurso para ajudar a lidar com determinada doença", afirma o médico Alexander Moreira de Almeida, coordenador do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

 

Tais informações devem ser integradas ao plano terapêutico desenhado e não visam substituir as ferramentas da medicina convencional.

Ocorre que, mesmo com a invasão do tema em encontros científicos, nem sempre os médicos e demais agentes são preparados para trazer essa abordagem à tona.

 

Uma pesquisa publicada no periódico BMC Medical Education calcula um aumento de 40 para 65% na oferta de conteúdos sobre saúde e espiritualidade nas faculdades médicas brasileiras entre 2011 e 2021. Contudo, nos ambientes de trabalho, fora o tempo escasso, as oportunidades de treinamento são pouco frequentes, criando uma barreira para levar a ideia à vida real.

 

Um estudo americano com a participação de 339 profissionais constatou que somente 12% dos enfermeiros e 14% dos médicos declararam ter recebido algum tipo de formação para o manejo espiritual.

 

"Os dados atuais sublinham a importância de incluir o assunto no ensino dos graduandos em medicina e de médicos residentes. A compreensão dos conceitos ligados à espiritualidade é necessária para os profissionais entenderem e atenderem melhor seus pacientes", afirma o ginecologista Rubens Tavares, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do Núcleo Avançado de Saúde, Ciência e Espiritualidade da instituição.

Falsos profetas da cura
O forte sentimento de religiosidade presente no Brasil é também um terreno fértil para o crescimento de terapias que flertam com noções espirituais e não têm evidência de comprovação.

 

Elas apregoam soluções milagrosas e até a substituição de recursos clássicos da medicina. "Um dos principais fatores por trás do crescimento de práticas alternativas, pseudociência e charlatanismo do século 20 em diante é a sensação de abandono da pessoa pelo sistema de saúde institucional", avalia o jornalista e escritor Carlos Orsi, diretor do Instituto Questão de Ciência (IQC), que investiga ha anos o assunto.

 

O problema é que, bebendo de ideias e narrativas espirituais, tais métodos movimentam um mercado lucrativo vendendo soluções respaldadas por supostos sábios e gurus. O rol inclui de astrologia a terapias baseadas em fluxo de energia, sem falar em cirurgias espirituais e cultos para conversão da orientação sexual.

 

Eles despertam a atenção, sobretudo de pessoas fragilizadas por um diagnóstico, porque prometem uma saída simples e ancorada na fé, contando com verniz científico ou, pelo contrário, buscando detratar a medicina tradicional com teorias da conspiração.

"Há muita confusão sobre o que está validado ou não pela ciência. E aí vemos profissionais ou influenciadores de jaleco, citando estudos, usando jargão e prometendo soluções rápidas sem uma série de exames ou medicamentos", destrincha Orsi.

 

Nessas circunstâncias, não importa a fé, desconfie!

 

Até porque as consequências de trocar o cuidado médico amparado em evidências por uma abordagem supostamente espiritualizada ou alternativa podem ser desastrosas: atraso no diagnóstico e maior risco de complicações e morte.

 

Para Koenig, pioneiro no trabalho com a espiritualidade e a religiosidade, o estudo da sua interface com a saúde procura justamente combater os aproveitadores por aí. "O método científico é projetado para demonstrar, da forma mais objetiva possível, o benefício de hábitos, crenças e tratamentos", ressalta.

Ao longo da história, os caminhos da ciência e da espiritualidade se cruzaram diversas vezes, entre abraços e conflitos. Em comum, nenhum dos dois lados dispõe de todas as respostas para as angústias da humanidade.

Talvez seja justamente nesse ponto de intersecção que elas possam dialogar e nos ajudar a cuidar de cada um de nós e do mundo.

 

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